Durante o CNC Global Voices 2025, realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), dois dos principais pensadores contemporâneos da economia, James Robinson e Paul Romer, apresentaram uma visão convergente sobre os caminhos para o desenvolvimento sustentável dos países emergentes. Ambos destacaram que o futuro do Brasil dependerá da combinação entre fortalecimento institucional, inclusão inovadora e responsabilidade fiscal, pilares capazes de recolocar o país na rota da liderança econômica global.
O evento foi conduzido pelo presidente da CNC, Roberto Tadros, que, na condição de anfitrião, reforçou a importância de promover o diálogo entre o setor produtivo e o pensamento econômico internacional. A iniciativa integra o esforço permanente da Confederação em estimular a reflexão estratégica sobre o papel do Brasil no cenário global e os desafios de competitividade enfrentados pelas economias emergentes.
Laureado com o Prêmio Nobel de Economia de 2024, James Robinson defendeu que o crescimento duradouro de uma nação não depende de fatores geográficos ou culturais, mas da qualidade das instituições políticas e econômicas. Ele ressaltou que países capazes de construir sistemas inclusivos — nos quais o Estado de Direito, a inovação e a concorrência prosperam — alcançam níveis superiores de produtividade e estabilidade social.
Robinson citou o exemplo da Coreia do Sul, que, há poucas décadas, possuía indicadores semelhantes aos da América Latina, mas hoje se equipara às economias mais desenvolvidas do mundo graças à solidez institucional e à promoção de oportunidades amplas. “Nada é inevitável. O futuro depende das escolhas institucionais que fazemos hoje”, afirmou.
O economista reconheceu avanços importantes no Brasil após a redemocratização, sobretudo no fortalecimento da democracia e das liberdades individuais, mas alertou que a fragilidade do Estado em assegurar bens públicos, regular mercados e combater monopólios ainda limita o pleno desenvolvimento. “O talento não é concentrado, mas as oportunidades sim. O desafio é democratizar o acesso à inovação”, observou.
O também Nobel de Economia, Paul Romer, destacou o potencial do Brasil para se tornar líder na economia digital aberta, desde que enfrente os monopólios tecnológicos e adote políticas que estimulem a concorrência, a diversidade e a inclusão tecnológica.
Para Romer, tecnologias como a inteligência artificial e os sistemas digitais devem ser tratadas como bens públicos globais, sob regulação democrática e com ampla participação social. Ele defendeu que o Estado tenha estrutura e autonomia suficientes para equilibrar inovação e segurança.
Entre as medidas propostas, Romer mencionou a adoção de identidade digital segura e universal, investimentos em cibersegurança e formação tecnológica, e incentivo a softwares de código aberto como forma de reduzir a dependência de grandes corporações. Para ele, os países emergentes têm a oportunidade de moldar um novo modelo de capitalismo, mais cooperativo e sustentável.
O presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac de Sergipe, Marcos Andrade, participou do evento, acompanhado de uma comitiva composta por cinco empresários de alto grau de influência no mercado sergipano. Segundo ele, as discussões conduzidas pela CNC evidenciaram que o desenvolvimento sustentável do Brasil depende de instituições sólidas, inovação aberta e equilíbrio fiscal.
“A convergência entre as visões de Robinson e Romer reforçou a importância de combinar crescimento com responsabilidade e democracia com produtividade. O Global Voices reafirmou o papel da CNC como fórum estratégico de debates sobre o futuro da economia brasileira e o fortalecimento das instituições públicas e privadas que sustentam o progresso do país. Nosso presidente, Roberto Tadros, merece todos os cumprimentos por promover um evento tão enriquecedor, com pessoas de alto gabarito que nos trouxeram suas visões acerca do potencial do Brasil no cenário macroeconômico mundial”, afirmou.
No painel “Tensões Internacionais e Economia Brasileira”, especialistas apontaram o risco fiscal crescente como um dos maiores entraves à expansão econômica do país. A trajetória da dívida pública e os juros reais elevados, próximos de 7%, comprometem a capacidade de investimento e pressionam o setor produtivo.
Economistas como Gabriel Barros e Reinaldo Le Grazie destacaram que, sem reformas estruturais voltadas à eficiência do gasto público, o Brasil pode permanecer preso a um ciclo de endividamento e baixo crescimento. “Pagamos um dos juros reais mais altos do mundo, o que drena recursos e inibe o empreendedorismo”, alertou Le Grazie.
Os debatedores reforçaram que estabilidade fiscal e previsibilidade institucional são condições essenciais para destravar o investimento privado e ampliar o espaço de políticas voltadas à inovação e inclusão econômica.
O Sistema S do Comércio é composto pela Fecomércio, Sesc, Senac, Instituto Fecomércio e 13 Sindicatos Patronais em Sergipe. Presidida por Marcos Andrade, a entidade é filiada à Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que está sob o comando de José Roberto Tadros.