As famílias da Ocupação das Mangabeiras começaram a ver sua realidade ser transformada. Na segunda-feira (20), a Prefeitura de Aracaju iniciou o processo de retirada dos moradores da ocupação que surgiu no bairro 17 de Março no ano de 2014. No local, o Município irá construir um novo complexo habitacional.
As famílias que chegaram ao local, mais recentemente, após o cadastro dos moradores no programa Pró-moradia, passo essencial para ter acesso às 1.102 casas que serão construídas pela gestão municipal e razão pela qual as famílias estão sendo realocadas, não ficaram desassistidas e passarão a contar com o auxílio moradia, um esforço da administração para assistir a toda comunidade.
Esse cadastro necessário ocorreu em abril de 2019 e, inicialmente, teve como objetivo obter um panorama detalhado da situação das famílias e, assim, elaborar políticas públicas com base no mapeamento feito, o que desencadeou a conquista, junto à Caixa Econômica Federal, da construção do Residencial que, assim que estiver pronto, abrigará as famílias contempladas pelo programa.
Após o período do cadastro, contudo, outras famílias passaram a morar na ocupação, como explica a diretora de Gestão Social da Habitação da Secretaria Municipal da Assistência Social, Rosária Rabelo.
“Na ocasião do cadastro, identificamos 836 famílias morando nos barracos. Após esse período, continuamos monitorando a área através de drones. Entre o meses de junho e julho deste ano, identificamos que o número de barracos aumentou, quando da notificação para que as famílias pudessem se dirigir ao Cras para fazer os contratos de aluguel. Observamos que havia 214 famílias a mais, sendo que, destas, somente 170 realmente tinham barracos na ocupação e o restante tinha residência fixa. Assim, com as novas 170 famílias, realizamos o cadastro para o auxílio moradia. Agora, além das que irão receber a casa, as demais também sairão da localidade para uma residência mais digna até que possamos incluí-las em projetos futuros de moradia”, esclarece Rosária.
Segundo a diretora, o trabalho de realocação tem sido feito com celeridade. “Essa agilidade é no intuito de trazer dignidade para essas pessoas. Elas estão saindo daqui e indo para um aluguel social, um investimento de cerca de R$7 milhões. Assim que as casas forem construídas, elas irão para as suas casas. As demais famílias continuarão no aluguel social, programa que fazemos o monitoramento anual, realizando visitas, vendo se as famílias estão dentro dos critérios e para projetos de moradia”, ressalta.
Segunda chance
Poder contar com o auxílio moradia, mesmo ainda não podendo adentrar no programa para garantir a casa própria, não é qualquer coisa para quem vivia em condições insalubres e até desumanas, como era visível na Ocupação das Mangabeiras.
A chance de se cadastrar para receber o aluguel social é alento, é a oportunidade de dormir sob um teto de qualidade, realidade que, para muitos deles, parecia estar longe de acontecer.
Para a manicure Edna Maria dos Santos, de 26 anos, o auxílio foi um presente antecipado. “Meu filho faz aniversário no dia 24 de julho e hoje [20] estamos saindo para uma casa de verdade. O pessoal da Prefeitura ligou e pediu para que fôssemos na sede para fazer o cadastro e, agora, estou saindo do barraco. Isso significa que vamos sair da lama, em todos os sentidos. Uma casa é uma casa. Penso muito nas crianças. Meu filho, de 1 ano e um mês tem alergia, problemas respiratórios, e isso vai dar qualidade de vida a ele. É maravilhoso. Me sinto realizada, feliz”, conta.
O sentimento de tranquilidade também toma a diarista Jamyle Souza Santos, de 28 anos, que morava na ocupação com o marido e dois filhos. Agora, a história será diferente do que imaginava para si.
“Estou muito feliz porque somos necessitados e fico contente por mim e pelas outras famílias. Sempre sonhei com a casa própria e, agora, vamos pra um lugar melhor, mais confortável, mesmo ainda não sendo nosso. Vou sair pra trabalhar e não vou mais me preocupar de como meus filhos estarão quando eu chegar em casa. Fiquei com receio porque eu não tinha o cadastro, mas, veio uma boa notícia depois e me tranquilizei”, desabafa Jamyle.
A vizinha de Jamyle também encontrou alento com a segunda chance. Priscila Souza, de 24 anos, também diarista, vai para uma casa garantida pelo aluguel social.
“Moro há um ano na ocupação e não consegui me cadastrar no programa, mas, depois o pessoal voltou e, agora, vou pra um lugar melhor, um ambiente melhor para a minha filha. Na ocupação, tudo era complicado, se chovia, se fazia sol. Nos dias que ventava demais, a gente perdia o telhado do barraco, por exemplo. Uma dificuldade que achei não acabar nunca. Agora, não vou mais passar por aflição”, relata Priscila.
O pedreiro Adriano de Souza morava na ocupação desde que ela foi instalada e contou como a saída do local vai mudar sua vida.
“Meu primeiro barraco foi montado com palhas de coqueiro. Eu vivia dentro da lama, dormia na rede com um olho aberto e outro fechado com medo de cair uma chuva ou ventar demais e perder o pouco que tinha. Fiz o cadastro depois porque, na época, eu trabalhava em São Cristovão e não consegui chegar a tempo. Mas, agora, estou cadastrado no aluguel e indo para um lugar melhor. A sensação é uma maravilha, essa de poder dar condições melhores para meu filho recém-nascido e minha esposa. Não tenho nem palavras para dizer o que sinto”, afirma Adriano.
Sensação semelhante tomou a dona de casa Ane Rafaela Santos, de 22 anos, morada da ocupação há um ano e meio. “Na época do cadastro eu não estava em casa porque minha filha estava adoentada. Depois, nós fomos chamados para ir pro Cras e fizemos o cadastro. Fomos no Centro de habitação e conseguimos. Muitas pessoas, como eu, não têm pra onde ir e, com essa ajuda, não vamos ficar à toa. Agora, eu tenho um teto pra colocar a minha família. É muito ruim não saber pra onde ir. Às vezes tem casa de familiares, mas não é a mesma coisa”, frisa Ane.
Há quase cinco anos, o motorista João Batista Silva, de 54 anos, dividia as aflições com os demais moradores da ocupação, sentimento que vai ficar no passado.
“Eu estava trabalhando e não vi quando passaram para cadastrar. Agora, posso ir para uma casa de verdade. O que a gente espera, um dia alcança. Tenho o sonho de ter minha casinha e agora é esperar, num lugar melhor. Tem sido feito um trabalho muito bom, estão cuidando de tudo direitinho”, avalia João.
A técnica de Enfermagem Ane Ketlyn Santos, de 19 anos, mora há um ano e oito meses na localidade e, mesmo com o rosto coberto por uma máscara, revelava o sorriso pelos olhos por poder sair da rotina difícil.
“Quando chove, fica impossível. Quando chegamos, não era pavimentado, então, era pior ainda. Perdemos muitos móveis. Já tive que ir para casa dos meus sogros, de amigos porque o barraco não tinha condição de morar. Até a gente ter estabilidade pra reformar o barraco e ter como vir morar aqui de novo. Quando houve o cadastro, minha avó estava com câncer e eu fui auxiliar. Quando eu voltei, o cadastro já tinha passado. Pensei que ficaria de fora, mas, agora, veio a tranquilidade. Agora, só alegria e esperança pelo que ainda vem por aí, com fé, nossa casa”, destaca Ketlyn.
Fonte: PMA